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Becher

Não devemos comparar a marca da ciência com as transformações de uma cidade, onde os edifícios envelhecidos são impiedosamente demolidos para dar lugar às novas construções, mas sim com a evolução contínua dos tipos zoológicos que se desenvolvem sem cessar e acabam por se tornar irreconhecíveis aos olhares comuns, mas onde um olho experimentado reencontra sempre vestígios do trabalho anterior dos séculos passados, Não se deve crer, pois, que as teorias antiquadas foram estéreis e vãs.

Poincaré

A teoria do flogisto foi elaborada por Johann Joachim Becher (1635-1682) e estendida por seu discípulo Georg Ernerst Stahl (1660-1734).

Essa teoria considerava que todos os corpos, incluído os metais possuíam em sua composição uma substância combustível, o flogisto, a qual era perdida durante processo de calcinação. Não era possível, contudo, explicar por que os metais aumentavam de peso, ao invés de diminuírem ao serem calcinados.

Em última análise, o flogisto seria, na concepção de Becher, o próprio fogo, uma entidade seca e adaptada para se combinar com os sólidos. A teoria do flogisto era, em seu nascedouro, influenciada pela teoria dos quatro elementos de Aristóteles; logo, era resquício do pensamento medieval.

Enquanto uma interpretação eminentemente qualitativa das reações químicas – da combustão, sobretudo – foi predominante na química, a teoria do flogisto floresceu, uma vez que conseguia explicar, convenientemente, os processos de combustão e calcinação. Contudo, com a introdução de um enfoque eminentemente quantitativo no qual Lavoisier desempenharia papel fundamental, as inconsistências do flogisto ficaram evidentes, com os trabalhos daquele sobre combustão, pondo um ponto final na teoria.

No entanto, embora tenha se mostrado posteriormente como incorreta, a teoria do flogisto trouxe uma contribuição indelével para a evolução da ciência química: direcionou seus estudos para a mineralogia e os estudos relativos aos gases, afastando-a, assim, do aspecto médico-farmacológico que a caracterizava até então. Tal mudança de rumos trouxe grandes avanços para a evolução da química tanto do ponto de vista experimental quanto do ponto de vista teórico.

Além disso, foi também – embora não exclusivamente motivado pelo objetivo de dar uma interpretação correta aos fenômenos de combustão e calcinação – derrubando as errôneas proposições da teoria do flogisto, que Lavoisier lançou na realização de todo um conjunto de experimentos que terminaram por não apenas derrubar aquela teoria, mas, também, por lançar as bases de grande parte da química moderna.

 Stahl

 

Fonte: Livro: Para gostar de ler a História da Química Extraído de: Farias, R. F. Para gostar de ler a história da Química. Campinas, SP: Editora Átomo, 2013

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