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O que conhecemos como ciência tem mais de 500 anos. Ela está alicerçada sobre certas regras de procedimento que permitem a obtenção de resultados precisos. Ainda mantidas, essas regras foram formuladas durante uma revolução no pensamento cientifico, quando a experimentação passou a ter papel preponderante.

Até a metade do século 15, as ideias que conduziram o aprendizado europeu eram uma mistura de crenças herdadas da antiga Grécia e ensinamentos da Igreja Católica. Mais tarde, no início do Renascimento, os estudiosos começaram a romper com os métodos tradicionais, proclamando a razão como a medida de tudo.
A revolução científica
Hoje Sabemos que a física teve início com observações seguidas por experimentação sob condições controladas com rigor. Não era assim que ocorria anteriormente.
Galileu Galilei foi o primeiro grande cientista da era moderna a se apoiar em observações e experimentos. Dentre suas descobertas mais extraordinárias destacam-se o princípio do pêndulo e a lei dos corpos em queda livre (que contradizia a visão aristotélica, mantida por quase 2 mil anos). Conta a lenda que ele teria deixado cair corpos de diferentes massas do topo da torre de Pisa para provar que todos os objetos chegavam ao solo ao mesmo tempo, independentemente da massa. Experimentos semelhantes foram realizados por cientistas como o flamengo Simon Stevin, que em 1586 soltou duas bolas de chumbo – uma dez vezes mais pesada que a outra – de uma altura de 10 metros, da torre da igreja em Delft.
Galileu aprimorou também o telescópio. Ele reuniu provas poderosas para mostrar que o Sol – e não a Terra – era o centro do Sistema Solar. Essa observação, que contradizia os dogmas aceitos pelos teólogos na época, acabou levando-o a julgamento em 1633 por heresia. Declarado culpado, foi obrigado a retratar-se publicamente.
Galileu fazia parte de uma nova leva de cientistas que se valiam da experimentação para compreender e explicar o Mundo que os cercava. O inglês William Gilbert, médico da rainha Elizabeth I, que levou a cabo os primeiros estudos sistemáticos do magnetismo, defendia que a ordem do Universo não era mística: a natureza magnética da “atração” mantinha os planetas em sua órbita. Por outro lado, William Harvey concretizou experimentos engenhosos e simples para estudar a circulação do sangue. Suas ideias eram consideradas tão heréticas que seu trabalho foi publicado por uma desconhecida editora alemã.
Otimismo renovado
Apesar da oposição da Igreja, o pensamento científico continuou a florescer, o que trouxe à sociedade novas expectativas.
O matemático e filósofo francês René Descartes, admirador de Galileu, declarava que nada de seu aprendizado na escola estava isento de dúvida e defendia a ideia de que o conhecimento devia ser “claro e preciso”. Quando escreveu as Regular, em 1628, e o Discurso do método, em 1637, seu objetivo era criar um método não somente para resolver problemas de matemática e física, mas para encontrar a verdade das coisas. Seu princípio – “Penso, logo existo” – foi a base do que ele acreditava ser necessário para a construção de uma nova forma de conhecimento. Contemporâneo de Descartes, o filósofo inglês Francis Bacon também desprezava o que de chamava de “ídolos”: as falsas noções, baseadas somente em algumas observações não testadas. Como seu colega francês, Bacon defendia um novo padrão de precisão. Sugeriu um método científico que exigia um paciente acúmulo de dados em três etapas. Primeiro, o pesquisador devia fazer observações, depois formular uma teoria para explicá-las e, finalmente, comprovar suas proposições por meio de um experimento rigoroso.
Sistema lógico
Em 1620, Bacon publicou Novum organum, no qual defendeu o novo método cientifico proposto. Seu trabalho influenciou diretamente os cientistas Robert Boyle, Isaac Newton e Robert Hooke.
Um dos grandes legados da filosofia de Bacon, exposto no Novum organum, foi a ideia de estabelecer uma organização em que o método cientifico e a pesquisa pudessem ser explorados e compartilhados. No final do século 17, isso VI era uma realidade.
Sociedades científicas
A primeira organização a publicar artigos científicos apresentados em conferências foi a Accademia dei Lincei (Academia dos Linces), assim chamada por causa da aguçada aptidão observacional de seus membros. Fundada em Roma pelo duque Federico Cesi em 1603, a academia teve Galileu entre seus membros, em 1610, após as descobertas astronômicas do cientista italiano, mas problemas com a Igreja levaram-na ao fechamento após a morte do duque. A Accademia degl’Investiganti (Academia dos Pesquisadores) foi fundada em Nápoles, em 1650, e a Accademia del Cimento (Academia do Experimento), em Florença, em 1657, fechada dez anos depois.
Ainda durante a década de 1650, um grupo de “filósofos naturais”, como eram chamados os que se dedicavam ao estudo dos fenômenos físicos, começou a se reunir na Inglaterra — no início, na Universidade Gresham, em Londres, e mais tarde nos aposentos de Robert Boyle, em Oxford. Quando Carlos 2º foi reconduzido ao trono, em 1660, esses filósofos, que se autodenominavam “Colégio invisível”, transformaram-se na Sociedade Real de Londres para o Progresso do Conhecimento Natural, mais conhecida na forma abreviada Royal Society. Robert Hooke foi indicado primeiro curador de experimentos, o que implicava fazer demonstrações práticas em todas as reuniões. O exemplo inglês foi seguido no continente europeu. Em 1664, Luis 14 concordou com a fundação da Academia Real Francesa de Ciências, e por volta de 1700 organizações similares se estabeleceram em Nápoles e Berlim. Diversas sociedades que permanecem até hoje se originaram desse movimento.
As sociedades científicas não só forneciam o foco e um lugar para discussão, o que contribuía para a disseminação das ideias científicas, mas eram um veículo de informação. Quando inventou a pilha elétrica, em 1799, Volta enviou uma carta da Itália para sir Joseph Banks, presidente da Royal Society de Londres, em que descrevia sua descoberta. Banks divulgou-a a todos os interessados no trabalho de Volta, e, em poucas semanas, as pilhas foram produzidas em toda a Grã-Bretanha, o que favoreceu o rápido desenvolvimento dos estudos sobre eletricidade. Nem mesmo as guerras napoleônicas impediram a disseminação da informação pela Royal Society.
FONTE: ADAM, Hart-Davis.160 Séculos de Ciência, volume 2: renascimento e iluminismo / editor: Adam Hart-Davis; editor da edição brasileira: Luiz Carlos Pizarro Marin; [tradução: Aracy Mendes da Costa]. – São Paulo: Duetto Editorial, 2010.
Título original: Science.
1. Ciência e História I. Título.
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