Os íons dos metais alcalinos tendem a ter um papel nada empolgante na maioria das reações químicas em geral. Todos os sais dos íons dos metais alcalinos são solúveis; e os íons são espectadores na maioria das reações aquosas (exceto aqueles envolvendo os metais alcalinos em forma elementar, como na Equação abaixo).
2 M(s) + H2O(l) → 2 MOH(aq) + H2, onde: M = metal
Contudo, os íons metais alcalinos têm papel importante na fisiologia humana. Os íons de sódio e potássio são importantes componentes do plasma sanguíneo e do fluido intracelular, respectivamente, com concentração médias de 0,1 mol/L. Esses eletrólitos servem como transportadores de cargas vitais para a função celular normal e são dois dos principais íons envolvidos na regulação do coração.
Em constante, o íon de lítio (Li+) não tem nenhuma função conhecida na fisiologia humana normal. Entretanto, desde a descoberta do lítio em 1817 pensava-se que os sais do elemento possuíam quase poderes místicos de cura; havia até sugestões de que ele era um ingrediente das antigas fórmulas da ‘fonte da juventude’. Em 1927, o Sr. C. L. Grigg começou a divulgar um refrigerante que continha lítio com o esquisito nome ‘Bib-Label Lithiated Lemon-Lime Soda’. Grigg logo deu à sua bebida litiada um nome bem mais simples: Seven-Up® (Figura abaixo).
Por causa de preocupações da Food and Drug Administration (órgão do governo norte-americano que fiscaliza a comercialização de medicamentos e alimentos), o lítio foi retirado do Seven-Up® no ínicio dos anos 50. Quase ao mesmo tempo, descobriu-se que o íon de lítio tem notável efeito terapêutico na desordem mental chamada desordem bipolar efetiva, ou doença maníaco-depressiva. Mais de 1 milhão de americanos sofrem dessa psicose, experimentando severas alterações de humor, de profunda depressão à euforia. O íon de lítio atenua essas alterações de estado, perrmitindo ao paciente atuar mais efetivamente em sua vida diária.
A ação antipsicótica do Li+ foi descoberta por acidente no final dos anos 40 por um psiquiatra australiano, John Cade. Cade estava pesquisando o uso do ácido úrico – um componente da urina – para o tratamento da doença maníaco-depressiva. Ele administrou o ácido em animais doentes de laboratório na forma de seu sal mais solúvel, urato de lítio, e observou que muitos dos sintomas maníacos pareciam ter desaparecido. Estudos posteriores mostraram que o ácido úrico não tem nenhum papel nos efeitos terapêuticos observados; os responsáveis eram na realidade os íons de Li+. Como a overdose de lítio pode causar severos efeitos colaterais em humanos, inclusive a morte, os sais de lítio não foram aprovados como drogas antipsicóticas para humanos até 1970. Hoje o Li+ é comumente administrado via oral na forma de Li2CO3(s). As drogas de lítio são eficientes para cerca de 70% dos pacientes maníaco-depressivos que as ingerem.
O refrigerante Seven-Up® continha originalmente citrato de lítio, o sal de lítio do ácido cítrico. Alegava-se que o lítio dava a bebida benefícios saudáveis, incluindo excesso de energia e entusiasmo, pele bonita, cabelos e olhos com brilho! O lítio foi retirado da bebida no início dos anos 50, aproximadamente na mesma época em que a ação antipsicótica do Li+ foi descoberta.
Nesta era de sofisticados projetos de drogas e biotecnologia, o simples íon de lítio é ainda o mais eficiente no tratamento de desordem psicológica destrutiva. Notavelmente, apesar de pesquisas intensivas, os cientistas ainda não compreendem totalmente a ação bioquímica do lítio que o leva a ter efeitos terapêuticos.
Fonte: Brown, Theodore L.; Lemay Eugene H.; Bruce E. Bursten – Química a ciência central – 9ª edição. Pearson Prentice Hall, 2005.