É porque estamos no ano do verde (e amarelo) vamos falar um pouquinho da novíssima Química Verde, da “Green Chemistry”.
O nome não é óbvio, pois não se trata, por exemplo, de Química Vegetal, sendo necessária uma definida proposição para esse novo ramo da Química. “Química Ambiental”, “Química Limpa”, “Química Ecológica”, “Química dos Produtos Sustentáveis”, “Química Antipoluente” são todas ramos da Química, alguns já estabelecidos como especialidades, mas que de uma certa forma são englobados ou dependem do que se chama hoje Química Verde.
Para uma definição correta, vamos usar as palavras de Paul T. Anastas que foi o criador do termo no ano de 1992, e de seu co-autor John C. Warner como menciona em seu recente livro Green Chemistry: Theory and Practice (Química Verde: teoria e prática), lançado em 1998 pela Oxford University Press: “Química Verde consiste na utilização de um conjunto de princípios que reduzem ou eliminam o uso ou a geração de substâncias perigosas durante o planejamento, manufatura e aplicaço de produtos químicos”.
Uma outra definição, essa da EPA, Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental), é mais objetiva: “Química Verde é o uso da química para prevenir a poluição. Mais especificamente, é o planejamento de produtos e processos químicos que sejam saudáveis ao ambiente”.
Assim, enquanto Anastas e Warner colocam a nova ciência como aquela que evita a fabricação de produtos poluentes, a EPA é mais enfática e preconiza a fabricação de produtos benéficos ao ambiente. Quase a mesma coisa, mas não exatamente a mesma Química…
Se voltarmos algumas décadas atrás podemos relembrar que o período de grande desenvolvimento das indústrias de sínteses e de preparações químicas ignorava completamente o que viria a ser poluição e poluentes que envenenaram nossa atmosfera, nossas plantações, nossas cidades e, como malefício máximo, quase destruíram a imprescindível protetora camada de ozônio.
A Terra está doente e envenenada. São urgentes atitudes que pelo menos evitem o aparecimento de novas indústrias destruidoras. E para isso o trabalho da Ecologia, que tudo abarca na proteção da natureza, já não é mais suficiente, sendo necessárias ações mais positivas. Já não é mais suficiente não poluir, é necessário limpar.
Para isso surgiu a Química Verde, envolvendo o planejamento e replanejamento de sínteses químicas e produtos químicos objetivando evitar a poluição e conseqüentemente resolvendo problemas ambientais. Dessa maneira, pesquisas são planejadas com base em estudos sobre a poluição, e seus efeitos sobre os seres vivos. Parte-se do princípio de que processos químicos prejudiciais (mesmo parcialmente) ao ambiente, podem sempre ser substituídos por processos alternativos, não-poluentes. Para atingir esse objetivo torna-se necessária a colaboração entre pesquisadores acadêmicos, que planejam o processo desde o seu início e o grupo industrial que o financia e desenvolve.
Para divulgar a Química Verde, seus objetivos e diferentes aspectos, a Royal Society of Chemistry, ligada à Universidade de York, na Inglaterra, planejou cuidadosamente e lançou, no início de 1999, uma nova revista científica, exatamente com o nome de Green Chemistry. Os editores pretendem que a nova revista seja um veículo de informação das atividades e interesses dos aspectos químicos e tecnológicos dos setores acadêmico e industrial, abrigando também publicações e comunicações de resultados de pesquisas científicas pertinentes.
Na realidade, já há muitos anos esforços vêm sendo feitos no sentido de combater os problemas ambientais mais graves que afetam a Terra, como a poluição da água e da atmosfera, o aquecimento global do planeta e as falhas na camada de ozônio.
A EPA relata como surgiu esse novo ramo da Química: logo após a proclamação do Pollution Prevention Act (Ato de Prevenção à Poluição) em 1990 o Office of Pollution Prevention and Toxics (OPPT) (Escritório para a Prevenção da Poluição e Tóxicos) teve a idéia de desenvolver ou melhorar produtos e processos químicos para torná-los menos perigosos à saúde humana e ao ambiente. Assim, em 1991, apresentou um programa de Bolsas de Pesquisa com o nome de Caminhos Sintéticos Alternativos para Prevenção da Poluição, envolvendo prevenção de poluição no planejamento de sínteses de produtos químicos. Desde então o Green Chemistry Program conquistou muitos colaboradores nas universidades e indústrias financiando pesquisas básicas na área de Química Ambiental assim como atividades educacionais, atividades internacionais, conferências e reuniões.
Para exemplificar o esforço de quantos vêm colaborando com a Química Verde, podemos citar o Los Alamos National Laboratory, membro da Union of Pure and Applied Chemistry, que vem trabalhando internacionalmente junto à indústria e outras instituições na procura de soluções para problemas ambientais. Por exemplo, um dos problemas críticos de poluição é a manufatura e uso de solventes orgânicos. Los Alamos desenvolveu um solvente reciclável que limpa desde minérios contendo Plutônio, até a roupa enviada ao tintureiro, extraindo também corantes para indústrias alimentícias. Trata-se de uma fase densa do dióxido de carbono, CO2, um produto industrializado e chamado de DryWash (lavagem a seco).
Finalizando queremos homenagear o Dr. Terrence Collins que recebeu em 1999 o Presidential Green Chemistry Academic Award, um prêmio de grande valor acadêmico, criado em 1995 para reconhecer tecnologias químicas que incorporem princípios da “Green Chemistry” no planejamento, manufatura e uso de produtos químicos.
Collins, Professor da Universidade Carnegie Mellon em Pittsburgh, Pensilvania, recebeu o prêmio pelo desenvolvimento de uma classe de moléculas chamadas catalisadores de oxidação e que conseguem reduzir a quantidade de cloro, poluente reconhecidamente agressivo, necessária em um grande número de processos industriais de clareamento. Esse catalisador, obtido através de componentes não-tóxicos poderá ser usado em indústrias de produtos para lavagem e indústrias de papel e, talvez no futuro, para tratar água destinada ao consumo humano, eliminando bactérias indesejáveis.